quarta-feira, maio 14

Lares de 3ª idade são seguros?

44% dos portugueses considera que a melhor solução para um familiar idoso e dependente é viver com a família. Uma posição que deriva da visão dos cidadãos sobre os serviços: 38% acha que os serviços de apoio domiciliário prestados a idosos ou dependentes são maus e 56% dos portugueses considera que é muito caro ter serviço de apoio domiciliário para idosos ou dependentes. Dados que reflectem as notícias vindas a público sobre os lares de terceira idade, desde queixas apresentadas na Segurança Social contra lares apoiados pelo estado não aceitarem idosos seropositivos até às últimas sobre lares estarem a receber “donativos” para darem entrada imediata a idosos que assim passavam à frente nas listas de espera. Este Sociedade Civil quer fazer um retrato dos lares portugueses, dado que hoje em dia existem 1.583 lares legais, dos quais 1.184 recebem apoios do estado, acordos esses que abrangem mais de 46 mil idosos.

Convidados:
Odete Farrajota - Administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
Cristina Fangueiro - Directora do departamento de desenvolvimento Social do Instituto da Segurança Social
António Mariano - Presidente da Associação de Lares de Idosos

22 comentários:

cristina disse...

Trabalho na área da intervenção social e gostaria que me dissessem porque é que a Segurança Social do Porto não comparticipa lares lucrativos, nem dá resposta através de IPSS a individuos menores de 65 anos de idade, remetendo-os para a RNCCI quando as respostas na rede nem sempre são suficientes e adequadas à problemáticas dos cidadãos.

Gostaria ainda de saber porque é que há lares que são denunciados como já fiz várias vezes ao organismo competente e a Segurança Social continua a deixa-los funcionar - por exemplo o lar Nossa Sra. do Auxílio na Maia já teve várias queixas e só agora é que a Segurança Social resolveu encerrá-lo, mas nada me surpreende que de hoje para amanhã volte a abrir, durante uns tempos dentro das normas e depois à margem delas.
Porque é que não se intensificam as equipas de fiscalização. Não haverá aqui também interesses económicos em jogo? Organismos do Estado permissivos face à sua impotência de criar respostas suficientes e adequadas...

lady_blogger disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lady_blogger disse...

Como em ocasiões anteriores referi, sou apologista de que se opte por soluções que não passem pelo internamento permanente dos idosos.
Filho és, pai serás...
Os filhos deveriam responsabilizar-se, ter em conta que os seus pais até terão feito sacríficios para os criar, e agora está na altura de retribuir não um favor, mas sim aquele amor. Quem estiver distante dos pais ou estiver também incapacitado, poderia recorrer aos serviços de outrém, nem que isso implicasse dispender a maioria do orçamento familiar. No caso de famílias mais carenciadas, essas poderiam ter a ajuda de auxiliares que o Estado pagaria para prestarem cuidados nas casas desses idosos. Em vez do Estado pagar a Instituições (Lares de Idosos), dava trabalho a muitos que estão no desemprego, e facilitaria a vida de muitas famílias.
Tenho uma amiga dos seus 80 anos, que há uns meses comunicou-me querer vender a casa, e eu disse-lhe que faria o que pudesse para que tal não sucedesse. Ela afirmou desejar ir para um lar e depois com a venda da sua casa conseguir pagar as mensalidades da instituição e ainda deixar bens a um filho e um neto que há mais de um ano nem a visitam nem lhe telefonam. Sinceramente... Eu disse-lhe que sou pela máxima de que "quem me limpar o traseiro é que é o meu herdeiro".

Quanto aos idosos que mesmo assim preferem ir para um lar para não se sentirem sozinhos, muitas vezes para entrarem nessas instituições necessitam do sr. "Cunha Valente".

Sei que em Belém, a PSP dispõe de um serviço de vigilia a idosos, indo de carro visitá-los. Penso que isso seria bastante útil se existisse em todo o país.

Sejamos mais solidários e respeitadores dos laços familiares mais estreitos. Amemos quem tudo fez por nós (pais e/ou avós).


CC

Maria Mendes

cristina disse...

A resposta social - lar - é entendida pelos técnicos de intervenção social como a mais desumanizante de todas porque promove o desenraizamento dos idosos de todas as suas referencias. Há lares que funcionam como verdadeiros depósitos de velhos. Uma visita não programada à maior parte dos lares permite-nos constatar que não é promovida a sua autonima, mas antes a sua letargia. Colocam-se idosos em frente a um televisor, numa sala comum e aí temos o panorama. Não é lamentável? Porque é que não se ocupam estes idosos? Não se torna o dia à dia deles mais feliz? Não me venham com o argumento dos custos porque há actividades que se podem promover apenas com boa vontade e com o envolvimento da comunidade. E depois querem que os idosos e os familiares tenham idiossincrasias positivas acerca dos lares?
No local onde trabalho dizer a um idoso que terá de integrar um lar é motivo para ele de grande sofrimento, o que é lamentável.

cristina disse...

É lamentável vermos no nosso dia à dia que os lares da Santa Casa da Misericórida não são para os mais desfavorecidos, mas apenas para aqueles que podem dar entradas avultadas ou deixar em testamento os seus bens a favor da instituição.Essa é a realidade que o país parece não querer ver!... Reconheço que são as instituições que funcionam melhor dentro da tipologia, mas de todo não são para todos...é que parece que todos somos iguais mas uns mais do que outros. Sugiro que ouçam a crónica do Herman José no seu programa radiofónico na Antena 1 sobre esta temática.

Interessada disse...

Se existem 1.583 lares legais, dos quais 1.184 recebem apoios do estado, e já que o painel de convidados é tão aplativo, julgo que será de indagar a esses 'responsáveis'o que é que está mal

Interessada disse...

«ENVELHECER É BOM» ???
Reconhecidamente falso, no nosso país! ...e eu ainda só tenho 56 anos.
Só uma pessoa priveligiada poderia fazer uma afirmação destas; e mesmo assim sendo não acredito que seja inocente.
Desculpa ó Sergio Godinho, mas realmente SÓ NESTE PAÍS!

Inês disse...

A minha mãe dizia muitas vezes: esta casa [o Lar] é a melhor coisa que existe para estas pessoas e para mim

A vida nunca é perfeita, num lar ainda há hipótese de se estar socialmente integrado. Essa é a sua mais valia.

Interessada disse...

Continuamos a dizer «é freciso reflectir»
Neste momento já se torna ridículo dizê-lo.
O assunto já foi por demais discutido e as conclusões retiradas.
Para quando interessarmo-nos pelos idosos, aqueles que já tanto deram à sociedade e que talvez ainda o possam fazer SE LHES DEREM POSSIBILIDADE DISSO?
Que tal reconhecermos que é muito mais cómodo arranjarmos argumentos para a sua exclusão? ..ele há tantos!!!!!!
Depois temos as consequências da nossa atitude; p.ex:'Dá-me o telemóvel já!'

carlinha disse...

Olá boa tarde a todos, primeiro que tudo muitos parabéns pela excelente qualidade do programa.
Gostaria de focar dois pontos que acho que são importantes:
1 - os lares são fundamentais e devem continuar a funcionar, já que cada vez mais a nossa população se torna mais envelhecida. Agora o que é de salientar é que deve existir uma fiscalização apertada aos lares, para que reunam as condições básicas de higiene, segurança e apoio médico. Estas instituições deveriam ser um local agradável. Entristece-me cada vez que vou ao lar e vejo as expressões de tristeza e apatia dos idosos. Na maior parte dos casos não existem estímulos para estas pessoas, que acabam por permanecer dias seguidos sem actividades apenas vendo TV.
2- Defendo que todos os lares se organizem no sentido de criarem actividades para os idosos, quer dentro do lar, quer fora da instituição (para os que ainda reúnem capacidades). Estas pessoas precisam de actividade, estímulos, manter o espírito jovem. Tendo em conta que a maioria dos casos são pessoas com problemas de saúde, quanto mais tempo distraídas estiverem, menos se focalizam nas doenças, o que pode ser benéfico para a saúde.
Por último, gostaria de pedir a todos aqueles que têm familiares nos lares, por favor, façam visitas periódicas a estas pessoas. Tanta, tanta gente sem visitas... é muito triste
Carla

APHS disse...

Sou Técnico Superior em Higiene e Segurança e já apoiei alguns empresários no licenciamento de actividades diversas.

Neste como em outros casos, a forma burocrática "á priori" que o estado estabelece, dificulta a entrada em serviço de novos empresários, mais modestos, mas bem intencionados.

É que se um estabelecimento existir, as entidades fiscalizadoras podem ser algo condescendentes, considerando os postos de trabalho em risco, e os utentes, excepto flagrantes ilegalidades.

Mas para um novo estabelecimento, há uma utopia perfeccionista, exigindo cumprimentos de normas que nem o estado cumpre, como encontro quando auditamos organismos públicos.

É que os requisitos impostos á priori, são um tapar o sol com a peneira, quando se assinam de cruz projectos e alvarás que não cumprem normas, e que nem são verificados pelas entidades competentes. É selva da hipocrisia burocrática, num país que legisla muito e fiscaliza pouco.

Por esse motivo, muitas áreas comerciais, como os lares, só se tornam apetecíveis para grandes empresas, capazes de vencer o obstáculo burocrático, dificultando serviços para a classe média/baixa. Abrindo lugar para os lares ilegais...

Há uma intenção por parte de alguns legisladores, em ir ao encontro de práticas como no reino unido, em que o estabelecimento comercial abre portas assumindo responsabilidade pelo cumprimento, sendo á posteriori auditado, estando em pé de igualdade com os tais que já funcionam, dando lugar a menos utopias.

Esperemos que, como em tantas áreas, a reforma da administração pública facilite a vida aos empresários e por conseguinte, aos utentes e clientes.

Leonel Graça
(Presidente da Associação Portuguesa para a Higiene e Segurança)

Ana Ferreira disse...

A questão da clandestinidade pode-se prender com fenómenos como o desemprego, ou seja, com o aumento da inactividade, a burla e a insegurança para com os idosos podem-se instalar dado que a experiência no ramo ou é nula ou reduzida. Ganhar dinheiro de uma forma fácil passa por manipular o mais fragilizado, na sociedade de hoje. Neste sentido, a resposta por parte dos idosos tende a ser positiva, porque, entre muitos factores, eles vivem isolados ou alguns deles com o medo social da solidão. Para culmatar este medo ou anseio, os idosos vêem necessário o relacionamento com outrém. Não deixa de ser uma ideia provida de sentido, quando apresenta para o idoso consequências saudáveis e seguras.
O que falta, na nossa sociedade, é uma “cultura de evitação”, ou seja, cada um de nós deve ser deambulante da realidade, ao ponto de informar a sua maneira de olhar por meio da prevenção (este é um papel da sociedade civil). Para isso, devem contribuir, em muitos factores, as redes de vizinhança, familiares, recreativas, desportivas e outras.
No fundo, estamos perante um cenário de “caçadores dos achados”, principalmente por questões económicas.
Resta-me, ainda, referir que se instaurou socialmente a ideia de que o isolamento é algo negativo e deve ser combatido por meio da interacção. Até aqui concordo. No entanto, os “traficantes” desta realidade manipulam os idosos, reforçando e sublinhando a negatividade da solidão, quando, na verdade, pretendem apenas as reformas e as poupanças acumuladas pelas populações mais idosos. Se o isolamento é uma realidade construída socialmente e por isso vista como aquela que acarreta consequências nefastas para o idoso, a manipulação, também, não deixa de ser um comportamento alicerçado socialmente e cognitivamente pensado e como tal, no meu ver, este comportamento é muito mais negativo. Há comparações inconciliáveis, efectivamente.
Quando institucionalizados, muitos idosos paralisam a sua própria vida: são vítimas de maus-tratos e passam a maior parte do seu tempo parados e portanto, sem vida activa. Os idosos são , para além das mulheres e de muitas crianças, vítimas de maus tratos físicos, psíquicos, negligência por abandono, negligência por doses de medicamentos mal dados e a horas indevidas, abuso sexual, burla, furto, entre outros, mesmo em lares de idosos.
Esta camada populacional vive em plena individuação e num regime de indiferença, quando ingressa em lares ou em centros de acolhimento, ao invés de encontrar um modo de vida estável que lhes garanta a tal segurança idealizada para o resto dos seus dias!

Ricardo Costa disse...

Acabei de ouvir a maior hipocrisia de sempre, preferida por um representante da Santa Casa da Misericórdia. Para esta Senhora, o ideal é que os idosos estejam nas suas casas mas com os cuidados da Santa Casa, desempenhados por voluntários, de modo a que os apoios monetários sejam lucro integral. Isto é, a politica económica mais vil que até à data encontrei. Será que deve o Estado continuar a proteger esta Instituição????

Sarat Arabesk Troupe disse...

Tenho 23 anos e a minha mãe tem 63. Ela teve uma trombose aos 61 anos que a deixou gravemente incapacitada mentalmente, isso acrescido á esquisofrenia grave que teve toda a vida torna impossivel a independência ou integração na familia. O lar pareceu-me a única solução, e na verdade ela melhorou bastante a nível mental e de qualidade de vida desde que se entegrou num lar. No entanto os lares publicos não tem vagas e o lar privado em que ela está é caro. É suposto eu contribuir com todo o meu dinheiro que não seja para bens essenciais. O meu trabalho é precário. Como posso ter qualidade de vida e garantir o meu futuro nestas condições? É necessário criar soluções menos dispendiosas, porque a familia não pode abdicar da sua qualidade de vida para garantir o cuidado dos seus idosos.

Interessada disse...

Colocar a questão da eventual ausência de vocação para trabalhar num lar, dos elementos que o fazem, é questão bastante impertinente.
UM LUXO NO NOSSO PAÍS, digo eu.
..e tão secundário para a questão da insegurança aqui debatida!
Há que ter noção do que é determinante.

Ricardo Costa disse...

Considera correcto que a Santa Casa continue a delapidar os bens das pessoas ao obriga-las a grandes e avolutados donativos para que por "milagre" surja uma vaga nos seus estabelecimentos...

Sarat Arabesk Troupe disse...

Gostaria só de completar o meu comentário referindo que a minha mãe está a receber apoio da segurança social, mas que as assistentes sociais me dizem que também tenho que contribuir com todo o meu dinheiro que não seja para assegurar a sobrevivência minima.

Ricardo Costa disse...

Eu vivo em Trás-os-Montes e sei por experiencia que efectivamente é assim que a Santa Casa procede regularmente se quisermos institucionalizar os nossos idosos. A outra forma de ultrapassar este obstáculo é com favores politicos.

Inês disse...

Muitas pessoas que trabalham nos lares de 3ª idade não são minimamente preparadas para o que fazem. Também há demasiados precários, que ficam muito pouco tempo. Se alguns trabalhadores não se adaptam à exigência do trabalho, outros extremamente dedicados não vêem renovar contratos.
Daí resulta uma instabilidade prejudicial ao bem estar físico e afectivo dos utentes.

césar Luciano disse...

Na zona onde moro, os Lares estão lutados, então só lá entra quem tiver o que todos nós sabemos.
Cumprimentos

Helena disse...

tenho a meu cuidado a minha mãe com 92 anos. Acho que tudo o que tenho ouvido no vosso programa para determinadas zonas do país não passa de utopia.
Na terra onde vivo usufruio de apoio ao domicilio somente uma ves por dia porque à hora que a minha mãe se deita esse apoio não se realiza, O apoio ao domicilio só se realiza das 9h ás 18 h, não se fazendo ao sábado, domingo e feriados. A minha mãe desloca-se em cadeira de rodas. Mas se eu quizer este apoio são as mesmas funcionárias da santa casa da mesericordia que o fazem recebendo "por fora".
Por este reduzido apoio a minha mãe paga 140€.
Se precisar de sair tenho que mendigar esse apoio pagando por vezes uma fortuna para que a minha mãe não fique sozinha e lhe seja dado o lanche. onde está o incentivo para cuidar dos idosos?

lady_blogger disse...

Sobre a minha amiga de quem hoje aqui falei às 13h e 57m, ela afinal já não recebe nenhum contacto do neto há 1 ano, e do filho há 6 anos. À senhora não faltam amigas de todas as idades, porém é triste a desresponsabilização sobretudo daquele filho para com esta senhora. E incrível é ela preocupar-se em deixar bens a estes familiares.

Hoje não falei sobre se acho os lares seguros, isto porque quanto a mim deveria haver outras soluções mais personalizadas, humanas e menos interesseiras.

CC

Maria Mendes