sexta-feira, julho 3

Cortiça, o ouro português

Que indústria em Portugal assegura exportações no valor de 900 milhões de euros por ano - mais de 2% do total das exportações nacionais - e dá emprego a mais de 12 mil trabalhadores? A cortiça, naturalmente. Há mais de 720 mil hectares de sobreiros – 23% da nossa floresta – e a indústria corticeira detém a maior fatia da produção mundial. No ano 3000 a.C, a cortiça já era utilizada na China e na Pérsia para fabrico de bóias, sapatos ou telhados. Mas a união mais feliz tem sido com o vinho, embora agora ameaçada por outros vedantes como as rolhas de plástico. Um dado curioso e que marca a inovação nacional é a criação de um banco de automóvel com o assento feito em cortiça, três vezes mais leve do que os actuais. O protótipo poderá representar vendas de 300 milhoes de euros.

Convidados:
João Pereira Lopes, Subericultor
Dionísio Simão Mendes, Presidente da Câmara Municipal de Coruche
José Miguel Lupi Caetano, Presidente da União da Floresta Mediterrânica
Fernando Teigão dos Santos, Investigador Universidade Nova de Lisboa

8 comentários:

Joana disse...

Olá a todos!
O tema de hoje tem grande interesse para mim porque acabo de defender a minha tese de fim de curso (Arquitectura) sobre o emprego da cortiça na Arquitectura Tradicional Portuguesa. Efectivamente a cortiça está ligada à cultura e tradições portuguesas desde sempre e de uma forma bastante homogénea em todo o território português porque, por exemplo, no século XV o montado de sobro abrangia todo o território.
Queria deixar aqui a minha contribuição com este tema pouco explorado porque pude verificar que a cortiça foi (até ao século XVIII, quando começou a ter grande interesse económico devido ao fabrico de rolhas)recorrentemente empregue na construção vernacular, conformando coberturas com as pranchas, paredes exteriores (utilizando pranchas e grandes pedaços de cortiça como se fossem tijolos e a terra como ligante), tabiques interiores (existem ainda os exemplos de conventos franciscanos - Arrábida, Buçaco, Sintra - em que este material é bastante evidente), pavimentos (da forma mais rudimentar, cortiça não tratada pregada no soalho) e revestimentos e forros. Penso que este é o momento de valorizar ainda mais este material e explorar as suas possíveis utilizações na construção, utilizações que não os convencionais revestimentos e isolamentos. Por exemplo, verificou-se que introduzindo cortiça no betão armado, as estruturas ficam bastante mais resistentes à acção do gelo.
Uma vez que só 30% da cortiça é empregue nas rolhas, todos os granulados que advêm desses "desperdícios" são potenciais matérias-primas para a construção.
Outro dado importante deste material é a inexistência de desperdícios na sua extracção, transformação e, cada vez mais importante, na sua reciclagem.

Joana Guerreiro Silva, Porto.

Anónimo disse...

Tenho ouvido algumas formas simples de garantir, senão potenciar o sector industrial da cortiça, nomeadamente no fabrico de rolhas. Porque é que o governo não obriga, por exemplo, a que seja mencionado no rótulo de um determinado vinho, em Portugal e futuramente na União Europeia, se a rolha é ou não de cortiça? Esta solução poderia inibir determinadas marcas de vinho em não enveredar pela rolha de plástico, garantindo assim a saída e a venda da cortiça.

Joana disse...

"Oliveiras minhas, vinhas dos meus pais, sobreiros dos meus avós"

Ditado popular.
Joana Guerreiro SIlva, Porto.

Anónimo disse...

Portugal nao pode obviamente viver da cortiça e portanto tem mesmo que se manter a par das tendencias no agarrafamento e providenciar as respostas antes de qualquer outro, e nao esperar, como sempre acontece, que o novo seja inventado, testado e aprovado na escandinavia e demais paises industrializados para copiar o modelo à posteriori.

Anónimo disse...

Tenho ouvido algumas formas simples de garantir, senão potenciar o sector industrial da cortiça, nomeadamente no fabrico de rolhas. Porque é que o governo não obriga, por exemplo, a que seja mencionado no rótulo de um determinado vinho, em Portugal e futuramente na União Europeia, se a rolha é ou não de cortiça? Esta solução poderia inibir determinadas marcas de vinho em não enveredar pela rolha de plástico, garantindo assim a saída e a venda da cortiça.

rduso disse...

O problema da indústria corticeira portuguesa é a falta de inovação.
Tal como o povo português, ficamos contentes com pouco, ou criamos algo que esperamos que seja rentável por muitos anos, sem pensar que o crescimento do produto irá estagnar.
Agora que as rolas começam a ser preferencialmente fabricadas em polímeros e outros materiais, que apresentam melhor relaçao características/preço, começamos a reclamar que vamos perder posto de trabalho. Ninguém se lembrou disso antes?
A cortiça possui excelentes propriedades (isolamento térmico, isolamento acústico, entre outras), que poderá resultar em produtos inovadores e capazes de absorver grandes fatias de mercado.
É o mesmo problema de todo o artesanato português, tal como a obra de vimes da Madeira, o bordado Madeira, entre outros.
É necessário mudar a mentalidade do nosso país! Temos de ser inovadores, e criar produtos de topo com essa excelente matéria prima que possuímos.

FLontro disse...

peço desde já desculpa por me dirigir a este fórum com uma questão e não um comentário, ainda por cima fora do tema em debate, mas de qualquer forma cá vai: no final do programa de hoje, 3/6/2009, passou um vídeo de publicidade institucional a um site que me pareceu de venda/ distribuição de produtos agrícolas biológicos. Não fixei o nome e não consigo encontrar referência na net. Seria possível divulgar essa informação aqui no blog?
Grato pela atenção e parabéns pelo programa... um forte incentivo à participação cívica dos portugueses (conhecimento é sinónimo de liberdade de escolha).

Unknown disse...

Olá, sou brasileiro e venho estudando sobre empress que ultrapassam suas fronteiras, desde sua concepção, ou seja, nascem internacionais, buscam prioritariamente, vender para outros países. Sendo assim, pensei na indústria de cortiça portuguesa. Imagino que em Portugal, há maior chance de encontrar empresas com essas características, pelo fato de estarem inseridos na UE e de terem um território menor que o Brasil, o que, de certa forma, faria com que seus empreendimentos recentes fossem nascidos internacionais, algo que, aqui no Brasil, chamamos de "truly born global". Penso que os produtores de cortiça portuguesa exportam boa parte de sua produção e talvez possuam filiais em outros países, deixando de ser somente exportadores. Portanto, gostaria de obter dos senhores(as) qualquer auxílio que fosse, para tentar encontrar uma empresa desse tipo, uma truly born global. Alguém poderia ajudar? Desde já, muito obrigado.