segunda-feira, maio 24

O segredo das boas notas

“Sempre tirei boas notas no ensino secundário, mas agora na universidade…” ou “É muita matéria, nem sei o que seleccionar para o exame”. Estes dois cenários são comuns aos milhares estudantes que começam agora a ser avaliados por via de exames, frequências ou testes.
A maior parte tem dificuldade em seleccionar a matéria que é mais importante e tantos outros simplesmente não têm métodos de estudo. As questões hoje são:
É preciso estudar ou “marrar” muito antes dos exames e estar noites em claro a estudar para ter boas notas? Ter boas notas na universidade é sinónimo de garantia de entrada no mercado de trabalho? Por que precisam uns de estudar e outros nem tocam nos apontamentos?

Convidados:
Paulo Feytor Pinto
, Presidente Ass. Professores de Português
Nuno Crato, Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática e Professor no Instituto Superior de Economia e Gestão
Sílvia Correia, Psicóloga Educacional
Renato Paiva, Director da Clínica da Educação

16 comentários:

Unknown disse...

Não é na Universidade, que o aluno começa a enfrentar dificuldades em tirar boas notas, mas sim no ensino secundário.
O ensino em Portugal, não é motivante para os alunos nem para professores que estão cansados e desmotivados. Turmas com 28 alunos fazem da transmissão dos conteúdos curriculares, uma confusão para alunos e professores.
As Universidades em Portugal, e consequentemente os seus professores e dirigentes estão com medo de perder os seus empregos, e por isso o facilitismo abunda para não haver desistências (isto principalmente no ensino universitário e politécnico privado).
Só Portugal é que tem os maiores problemas no ensino da matemática na Europa. Pode-se então concluír que a culpa não é dos alunos, mas sim do próprio plano curricular e da maneira como é dado.
Tenho um filho no secundário, e em todas as turmas mais de 70% tem notas negativas a matemática. A maioria dos alunos detestam matemática, e existe uma fixação doentia em forçar a aprende-la nestes moldes.
O que é que os professores fazem para combater esta percentagem de notas negativas? Lançam fichas e mais fichas, intermédias aos testes principais para que os alunos obtenham uma esperança de notas positivas, isto para não manchar o currículo do professor.
Acho precisamente o contrário, hoje em dia as universidades e politécnicos tem planos curriculares com matérias muito mais fáceis, que o ensino secundário, principalmente do 10.º ao 12.º anos.
Pergunto, temos sido governados por incompetentes ou vigaristas?

sonharamar disse...

No meu caso foi ao contrário. Tive más notas no secundário e até cheguei a reprovar.
Quando cheguei à universidade reparei que era tudo bastante mais fácil e sempre tive notas excelentes até terminar o curso.
Facto que se deve ao nível de exigência ter sido muito mais elevado do que noutros estabelecimentos de ensino.
Fui bastante prejudicado pois a minha média no secundário foi bastante mais baixa. Em média os alunos subiam 2 a 3 valores nos exames nacionais em relação á nota final das disciplinas.
Muitos mudavam de escola, principalmente para escolas privadas, apenas para subirem as notas.

Seria bastante mais justo um sistema onde os exames valessem 100% da nota ou que houvesse um sistema que pudesse garantir a igualdade da exigência de avaliação.

ASS: Pedro Silva

ANGELA VALE disse...

Boa tarde,

Gostava de ver abordado neste tema sobre "o segredo das boas notas " a influencia da escola virtual (o novo metodo de ensino da Porto Editora ) no sucesso das boas notas

DSBDuarte disse...

A dificuldade de estudo no Ensino Superior advém muito do método adoptado nas faculdades. Posso dar o meu exemplo: Sou aluna de Medicina na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior e sempre estudei no ensino público. Com um método completamente oposto ao clássico, a minha faculdade apostou, muito antes de Bolonha, num ensino baseado na autonomia do aluno e no contacto com a prática profissional desde o 1ºdia. Resultado: Os alunos tem tutorias onde lhes é orientado o estudo mas tudo depende do discente, que desde o 1º momento tem que saber comunicar resultados e estudar, ele próprio. É um método intensivo em que o aluno é avaliado a cada 2 semanas por exames sobre a matéria em estudo e ao fim do programa para determinada área realiza um "Integrado" em que as matérias não são isoladas mas interconectadas, evitando assim que as coisas sejam decoradas só para um momento pontual. Paralelo ao ensino teórico, desde o 1º ano que os alunos têm estágios nos hospitais e centros de saúde e praticam ao longo de todo o período lectivo aptidões necessárias para a componente médica, sempre relacionadas com as áreas de conhecimento teórico abordadas. Tem o inconveniente da elevada carga de stress e de não termos férias, apenas a tradicional semana de Natal ou Páscoa, mas se o aluno for organizado, consegue o sucesso saindo do curso não um profissional teórico, mas um médico capaz, mais humano e menos teórico. Além disso, a vantagem gritante de não ter feito a adaptação " de fachada" a Bolonha, porque se Bolonha defende a autonomia do aluno este é o método ideal.

João Fael disse...

Basta ver onde começa o problema é logo nos primeiro anos de escola, veja-se o exemplo dos exames de aferição, além do facilitismo, não contam para a avaliação nem do aluno, do professor nem da escola, pois quando os resultados são revelados já nem lá está o aluno, o professor e muitas vezes a escola já fechou, ainda no ano passado passaram um aluno com 9 negativas, é assim a educação em Portugal que não difere da saúde e da justiça, uma vergonha.

ANGELA VALE disse...

Observem bem o que disse o João José , como é possivel dar incentivo aos alunos para estudarem , quando depois os proprios alunos observam os colegas que nada fizeram e que conseguem passar o ano mesmo tendo 9 negativas .
Como ???? consigo incutir nos meus filhos o gosto pela escola , quando existe estas novas opurtunidades que depois em poucos meses ficam com o 12º ano , é mesmo isso que os nosso alunos sentem " para quê tantos anos na escola se depois em meia duzia de meses , obtenho o mesmo diploma" , pois porque quando lhe perguntarem as habilitações vale tanto o 12º quer seja no ensino normal quer seja na novas opurtunidcades.

avós disse...

O pior de tudo é fechar o triângulo que o M.E. abriu,já há anos, ferindo de morte a cumplicidade necessária entre o Aluno,a Escola e a Família.
Já vai longe o tempo em que a Escola e a Família, de mãos dadas,tudo faziam para o sucesso do Aluno!...
Sem ser devolvida a disciplina à Escola...

Vera disse...

Na minha opinião, a grande dificuldade está na passagem do básico para o secundário. Durante o básico, o ensino é completamente infantilizante. Os miúdos não são "puxados", entrou-se completamente no facilitismo que acaba por lhes criar dificuldades imensas quando passam para o secundário. O secundário exige uma "pedalada" para a qual eles não estão treinados e daí haver tanta descida de notas no 10º ano.
No nosso ensino actual há imensas coisas erradas, imensas coisas que exigem alterações urgentes. Como? Não sei, mas tenho a sensação de que se os Pais fossem mais participativos e interventivos, as coisas poderiam ser alteradas!

ANGELA VALE disse...

Infelizmente qualquer encarregado de educação bem atento, pode presenciar que muitos dos professores sabem menos do que os nossos filhos , é com muita tristeza que digo isto mas é uma realidade no nosso ensino , que me desculpem todos aqueles professores que ainda querem ensinar bem os seus alunos e que se aplicam a 100% para o fazerem mesmo desmotivados com os incentivos que o governo portugues lhes oferece para tal

Raquel disse...

Eu sou de opinião que é de pequenino que se traça o destino, baseando-me no velho ditado popular "de pequenino se torce o destino".
Também concordo com Vitor, aqui mais acima, e quanto à sua questão no final do seu comentário, eu já respondi noutro tema atrás. Neste país reina, a nível de governo, a incompetência e a vigarice, mas o que nos salva são os competentes e os honestos que também são muitos, felizmente!
Neste programa, hoje (mas não só), por exemplo, estão pessoas competentes.
As turmas não deviam ultrapassar os 22 alunos e deveriam ser um pouco mais ou menos alunos, dependendo do ano escolar e do número de crianças ou adolescentes com atrasos de desenvolvimento ou dificuldades sérias na turma.
Eu tive alguns professores no secundário de qualidade de ensino, muito duvidosa e medíocre, até. Mas o que me fez nunca reprovar, além da a minha perturbada mãe dizer que me matava se tivesse notas negativas, era sobretudo a minha auto-disciplina, vontade de aprender, gostar de estudar e ter tido uma excelente professora no ensino básico 1º ciclo. As bases são essenciais, são os alicerces! Mas mesmo depois, é sempre possível fazer algo para melhorar as notas escolares.
Os professores deviam ter melhor formação, menos teoria, mais prática, devia semelhante à dos Formadores de adultos, mas adaptado à idade dos alunos que vão leccionar.
Os pais têm um papel essencial para ajudar no sucesso do aluno: interessar-se pelo que o filho aprende, motivá-lo, incentivá-lo adequadamente e apoiar sem lhe resolver os trabalhos de casa. Questioná-lo acerca das coisas, incentivá-lo a pensar por si mesmo, em vez de lhe dar as resposta de imediato, tal como Nuno Crato e Paulo Feytor Pinto disse, é um bom método.
Antes disto, na infância, deveria haver jogos de mesa, jogos didáticos com a criança, se houver irmãos ensiná-los a colaborarem positivamente um com os outro, contar histórias todas as semanas (se possível ler um pouco todos os dias) antes de dormir, perguntar-lhe acerca do seu dia, inscrevê-los nos estabelecimentos de ensino com qualidade ou complementar com actividades pedagógicas extra, tais como: clubes de xadrez, Mathenasium (explicações de matemática divertidas e motivantes), judo ou Karaté para ajudar na concentração, pequenos cursos de línguas estrangeiras, formação musical, etc. Também ajudam as visitas da família a museus, centros de interpretação, viagens na natureza, etc.
Compreender é de facto, muito mais importante que meramente memorizar. O meu filho sabe bem a tabuada, por exemplo, porque eu lhe expliquei. Infelizmente a professora dele vai muito pela memorização, eu é que tenho de ser a "explicadora" sem gratidão de ninguém, nem recompensa, mas a grande satisfação de ajudar o meu filho. O pai dele também ajuda, o nosso filho é um bom aluno. Nem que seja investigando e estudando com ele, porque continuo a adorar aprender!
Concordo com os convidados quando se referem à maneira inútil como decidiram ensinar a divisão nas escolas, uma completa perda de tempo e acaba por criar confusão aos pais e avós.
Vejo muitos erros de educação com as crianças.
Eu fui vítima de pais incompetentes: não tinha ambiente de estudo, material adequado, alimentação adequada (eles tinham salários médios bons, mas gastavam quase tudo só com eles próprios), não me ajudavam nem se interessavam a maioria das vezes pelo que aprendia, por vezes e inferiorizavam-me, ofendiam-me verbalmente, excepto o meu pai, que era mais ausente.
Porque não "obrigam" determinados pais, em que se nota negligência, muita ignorância e má informação, porque não, fazê-los frequentar aulas de Formação de pais dadas por Formadores/psicólogos adequados?

O Tambor disse...

«O homem ignorante não é o sem instrução, mas aquele que não conhece a si mesmo. ...
o que actualmente chamamos educação é um processo consistente em acumular informaçõe e conhecimentos tirados dos livros e isso qualquer um que saiba ler pode conseguir. ...
O saber técnico , embora necessário, de modo algum resolverá nossas premências interiores e conflitos psicológicos; e porque adquirimos saber técnico sem compreender o processo total da vida, a técnica se tornou meio de destruição. O homem que sabe dividir o átomo mas não tem amor no coração transforma-se num monstro. J. Krishnamurti
in A EDUCAÇÃO E O SIGNIFICADO DA VIDA

Mantra disse...

Se a escola apenas serve para transmitir conhecimento, e não para criar conhecimento, talvez essa possa ser uma das causas raízes de tanto insucesso. Não é valioso achar que o construtivismo está obsoleto. Só se for matematicamente...

ps disse...

Há uma cada vez maior consciência colectiva de que é vital apostar em melhorar a Educação (familiar, escolar, social...) que vai muito adiante da maioria das práticas que (ainda) prevalecem!
Vão aparecendo novas práticas, novos modelos de escola, novas tentativas de conciliar família-trabalho-tempo para os filhos, práticas de pedagogia social, formas de ensino-aprendizagem alternativas...
Tem que se apostar em todas as frentes e na sua articulação: Família, Escola e Sociedade têm que estar ligadas organicamente. A Economia tem de deixar de ser o centro da nossa atenção diária e a Educação tem de passar a ocupar esse lugar central,para bem do futuro de todos!

Raquel disse...

Quando tinha professores que me obrigavam a "desbobinar" nos testes acerca de um assunto, a nota era média baixa, mas se pediam para eu comentar ou fazer o meu juízo acerca de um autor ou tema, aí tinha melhor nota. Na Matemática e outras ciências, praticava até compreender a equação e algumas coisas tinha mesmo de memorizar, mas sempre que podia, escrevia de acordo com a minha opinião.
É lamentável os problemas que aconteceram na minha vida, provocados mais por outros que por mim, senão teria estaria melhor...mas não perco a esperança.
Alguém disse mais ou menos isto: "não importa muito o que outros fizeram da tua vida, mas o que tu fazes por ti".
E os pais nunca podem esquecer que uma forma essencial de motivar ou ter filhos bem sucedidos é dar o exemplo.
Gostava que acabassem com a pouca vergonha de passar de ano alunos medíocres que só têm boa memória e mais nada! Eu assisti a isso e até me dá voltas ao estômago só de lembrar. E esses incompetentes andam para aí espalhados com empregos de responsabilidade...em que más mãos, os maus professores e os ministros de educação, nos metem!

Raquel disse...

A Vera disse:(...)"Durante o básico, o ensino é completamente infantilizante. Os miúdos não são "puxados", entrou-se completamente no facilitismo que acaba por lhes criar dificuldades imensas quando passam para o secundário.(...)
Não se pode generalizar, há escolas e Escolas e professores e Professores. Mas dizer que o básico infantiliza os alunos, parece-me incorrecto. Só terá alguma razão se a Vera se refere a nível dos conteúdos exigidos para passar de ano, pois permite que qualquer "atrasadinho", "papagaio" batoteiro ou preguiçoso mal educado, transite de ano com a maior das facilidades.
Quanto ao "infantilizar" crianças, acho o contrário: a sociedade, os educadores e a escola básica estão a forçá-las a crescer depressa demais. A CRIANÇA NÃO É UM ADULTO EM MINIATURA! Apetece-me berrar. Deixem as crianças dizer o que pensam, corrijam suavemente só depois, deixem-nas brincar e jogar com os seus brinquedos e umas com outras da sua idade, sujar-se, rir livremente, ter tempo livre para se auto conhecerem e reflectir no que as rodeia, fazer as suas próprias escolhas, depois de lhe mostrarmos (se for preciso, pergunta-se a quem mais sabe de crianças perto de nós) quais as melhores opções para ela, para que não siga cegamente outras crianças mal educadas ou se influencie pela publicidade enganosa, etc. Não suporto tanta incompetência a lidar com crianças!
A criança tem de ser infantil, só tem esses anos para o ser, se for infantil em adolescente (depois dos 13 anos) ou quando adulta, isso é que é problemático, mas se calhar foi por má educação, por não a terem ensinado a ser responsável e a comportar-se adequadamente, sem exageros ou ditaduras radicais. Muitos dos actuais "crescidos infantis", se calhar foram incitados a crescer sem brincar saudavelmente, não lhes eram dadas tarefas para ajudar a arrumar e limpar a casa, não lhes era exigido que fizessem os trabalhos de casa, cuidassem do animal de estimação ou de um irmão mais novo (caso tivessem), que lessem um bom livro, ouvissem melhor música ou algo do género.
Ora depois, chegam ao secundário mal preparados e muitas vezes imaturos e irresponsáveis!
Depois vêm com a treta da educação sexual, se os bombardeiam com imagens disso a toda hora na TV, no cinema, nas revistas, na internet...até enjoa! Neste aspecto eles não estão nada infantis, infelizmente... em parte, acho que é porque não os deixam descobrir essa coisas mais tarde, depois de se apaixonarem ou quando tiverem curiosidade e perguntarem. Não se pode informar tudo acerca disto às crianças, tem de ser de acordo com a idade e a sensibilidade da criança, mas isso devia ser a família dela a falar, acho uma estupidez quererem dar aulas para falar algo íntimo, privado e que a criança devia só falar com um adulto de plena confiança que, normalmente, é a mãe.
O essencial é informá-las, depois dos 10 anos, principalmente, das consequências dos actos caso os pretendam cometer ou alguém as queira convencer a isso, para evitar gravidez indesejada precoce e riscos para a saúde tal como as doenças sexualmente transmissíveis, assim como problemas psicológicos que ficam por terem dado um passo precipitado do qual sentem vergonha, arrependimento ou medo.
Quanto a isto, é lamentável como tanta gente fica com sentimentos de culpa, muitas vezes sem ter tido culpa...
O segredo das boas notas, para lembrar o tema aqui nesta página, passa também por estes pormenores que agora referi, com mais importância do que parece. Um aluno tem que estar equilibrado a todos os níveis e todos nós somos complexos, subjectivos... e muito mais, alguém ainda em desenvolvimento cerebral e emocional, isto é, em crescimento.

Haja sim educação cívica, moral e ética!

Tenho razão, não acham?

BB disse...

Boa tarde Sociedade Civil,Fernanda e painel de convidados.
Gostaria de fazer uma pergunta super rápida a todos os convidados se existir ainda a possibilidade de o fazer em directo.
Não acham que nós vivemos numa sociedade em que somos constantemente pressionados e condicionados a consumir coisas superfluas ?
Obrigado.